[English Below]

O piano conquistou muito cedo Marisa Rezende para o mundo da música. A jovem instrumentista carioca, no entanto, cada vez mais envolvida com as múltiplas possibilidades da música, iniciou seus estudos de composição na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – para concluí-lo no Recife, em 1974. Os caminhos “polifônicos” de sua vida levaram-na por duas vezes à Universidade da Califórnia, Santa Barbara: lá dedicou-se primeiramente ao aperfeiçoamento de seu “pianismo,” concluindo o mestrado em 1976, para então avançar sobre a composição musical, que se tornara seu interesse principal e que a conduziria ao doutoramento em 1984.

Em 1987 retornou ao Rio de Janeiro como pro- fessora titular de composição da Escola de Música da ufrj. Sempre atenta à multiplicidade de conceitos e meios na criação musical, marcou sua atuação naquela instituição com duas importantes iniciativas: fundou o Grupo Música Nova – dedicado à pesquisa, criação e interpretação da música brasileira contemporânea – e “deu partida” na formação de um núcleo de tecnologia musical. Suas atividades docentes seguiram até 2002, apenas descontinuadas em razão de estudos realizados na University of Keele, Inglaterra. Seguindo sua trajetória artística e participativa, Marisa é hoje cofundadora do Núcleo de Música Experimental e Intermídia do Rio de Janeiro, que reúne uma série de figuras engajadas em perfilar novos caminhos para a música.

Para descrever a experiência musical, recorremos muitas vezes a metáforas por elas expressarem mais precisamente o que ouvimos. Assim, esses comentários procuram traduzir o indizível de uma obra enraizada no pensamento mais estritamente musical. Não deixa de surpreender que, mesmo sendo Marisa uma compositora especialmente sensível aos estímulos da literatura e das artes visuais – atividades com as quais mantém um diálogo permanente –, tenha produzido uma música tão inerentemente circunscrita ao imaginário musical. Sua música insiste em pôr em dificuldades quem busca estereótipos e modelos de classificação prédefinidos. Isso ocorre menos por despertar impressões de ruptura do que por oferecer um cruzamento sempre renovado de impulsos diversos, livre de preconceitos.


___________________________


Marisa Rezende was early on seduced by the piano into the music world. The young pianist from Rio de Janeiro became, however, more and more involved with the many possible choices in music. She began her undergraduate studies in composition at the Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concluding it in Recife, in 1974. The “polyphonic” roads in her life lead her twice to the University of California, Santa Barbara: she obtained her master’s degree in performance in1976 and later focused on composition, by then her major musical interest, gaining her doctor’s degree in 1984.

In 1987, Marisa Rezende returned to Rio de Janeiro to become a professor in composition at the Escola de Música da ufrj. Always aware of the various concepts and media in musical creation, she contributed significantly to this institution by founding the Grupo Música Nova – exclusively dedicated to the research, composition and performance of Brazilian contemporary music – and by helping create a musical technology centre. Her teaching activities were carried on until 2002, with a brief one year interruption in 1991at the University of Keele, in England. She participates actively in Rio ́s musical life and is nowadays cofounder of the Núcleo de Música Experimental e Intermídia, a group of composers interested in exploring new idioms in music. When we employ metaphors to describe the musical experience, we do so because they describe more precisely what we hear when we listen to sounds like music. Hence the following comments attempt to translate the inexpressible in a work that is especially rooted in strict musical thought. Although sensitive to literature and visual stimuli – artistic forms with which she has often worked closely –, it is remarkable that Marisa has created music inextricably tied to the musical imaginary, to actions of both composition and performance. Her music defies the use of stereotypes and pre-es- tablished models to classify or understand it. This is explained less because of impressions of ruptures and rather because it resorts to a mixture of various musical impulses, without prejudices nor exaggerated accents.