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"No Encalço do Boi" de 2002 é uma peça do compositor paulistano Silvio Ferraz (1959) escrita para clarinete baixo e percussão. A idéia que gera toda a obra aparece logo no início, num pequeno trecho ritmicamente regular; um fragmento de música para dançar, quem sabe um batuque ou um bumba meu boi. O autor criou esse fragmento ao ouvir dois músicos caiçaras do litoral de São Paulo tocarem uma rabeca e um balde vermelho no lugar de um tambor. No decorrer da peça, essa figura inicial é submetida a uma série de procedimentos de composição, ou melhor, de decomposição, que a desconstróem até o nível de fragmentação, no encalço de uma linguagem mais abstrata. Os componentes rítmicos e melódicos vão sendo submetidos a um processo de filtragem sonora que ora elimina um elemento ora outro até que surja dessa desconstrução uma outra música. O autor não quis escrever uma peça nacionalista. A partir de uma experiência lúdica, ouvindo músicos que trabalham sobre arquétipos da tradição folclórica, recolheu essa amostra sonora, talvez uma lembrança afetiva, para mais tarde re-elaborar esse objeto como um relojoeiro que desmonta um mecanismo para entender seu funcionamento e chegar à sua alma. A tentativa do resgate impossível se constitui num jogo de perseguir os rastos sonoros e, a partir deles, criar outro boi imaginário.

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"No Encalço do Boi", from 2002, is a piece for bass clarinet and percussion written by Silvio Ferraz (1959), a composer from São Paulo. The idea on which the entire piece is based appears in the beginning, in a small rhythmically regular segment, perhaps a drumming (batuque) or a bumba-meu-boi (a folkloric dance with the figure of an ox). The author created this fragment when listening to two popular musicians from the coast of São Paulo play a fiddle and a red bucket as a substitute for a drum. During the piece, this initial figure undergoes a series of procedures of composition, better still, of decomposition, which deconstruct it until the level of fragmentation, in search of a more abstract language. The rhythmic and melodic components suffer a process of sonorous filtering which eliminates an element here, another there, to the point in which this deconstruction produces a different music. The author did not wish to write a nationalist piece. From an amusing experience, listening to musicians who work with the archetypes of folkloric tradition, he retained this sonorous sample, perhaps even an affectionate memory, in order to later re-elaborate this object as a watchmaker who dismantles a mechanism so as to understand its way of functioning and thus reach its essence. This impossible rescue attempt becomes a game of pursuing sonorous traces and, based on them, of creating an imaginary ox.